Chegou ao fim o primeiro semestre de 2025, um período marcado por incertezas na economia global, tensões geopolíticas e impactos diretos no mercado de comércio exterior. A seguir, acompanhe os principais acontecimentos dos últimos seis meses:
Tarifaço de Trump e intensificação da guerra comercial
Em abril, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu continuidade à guerra tarifária entre EUA e China. A disputa, que se arrasta há anos, ganhou novos contornos com a imposição de tarifas adicionais sobre produtos chineses, chegando a 34%, além dos 20% já existentes.
Como resposta, a China impôs uma tarifa de 34% sobre produtos americanos. Em meio à escalada, os EUA ameaçaram elevar a taxação total para 104%, enquanto o governo chinês afirmou não haver espaço para recuo, reforçando que está pronto para retaliar.
Em maio, foi firmada uma trégua de 90 dias, com tarifas reduzidas: os EUA baixaram a taxação sobre produtos chineses de 145% para 30%, e a China reduziu de 125% para 10%. No entanto, o acordo foi posteriormente rompido, levando a uma nova rodada de aumentos tarifários, 125% pelos EUA e 84% pela China.
O Brasil também sentiu os impactos: produtos importados foram taxados em 50% pelos EUA, alterando significativamente a dinâmica comercial com o mercado norte-americano.
Efeitos nas exportações de soja para China
A redução do uso de farelo de soja na pecuária chinesa provocou uma queda nas previsões de importação para o ciclo 2025/26. A expectativa é de que a China importe 95,8 milhões de toneladas de soja, uma queda de 2,8% em relação ao ciclo anterior (98,6 milhões).
Pressão sobre os países do BRICS
Donald Trump anunciou que os países do BRICS estariam sujeitos a uma tarifa de 10%, sob a justificativa de que o bloco busca enfraquecer o dólar como moeda padrão. Em 2024, o presidente já havia exigido que o BRICS não criasse ou apoiasse uma nova moeda, sob pena de taxação de 100%.
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, reafirmou o compromisso com o bloco e reforçou a estratégia de diversificação econômica, sem criar dependência de nenhum país, mesmo com a China sendo o maior parceiro comercial do Brasil (com US$ 94 bilhões em importações).
Canal de Suez: retomada gradual após conflitos
Os conflitos no Mar Vermelho continuam impactando a navegação comercial. Desde 2023, ataques a navios na região afastaram grandes empresas da rota do Canal de Suez, com redirecionamento para o Cabo da Boa Esperança, aumentando custos e atrasos logísticos.
Segundo a Autoridade do Canal de Suez, 47 navios foram redirecionados entre fevereiro e abril. A trégua entre Israel e Hamas levou à redução temporária dos ataques, mas a insegurança ainda pesa sobre a região. O Egito acumula perdas de cerca de US$ 7 bilhões em receitas, uma queda de 60% na arrecadação do canal.
Frete marítimo em alta e seus efeitos no comércio global
O frete marítimo segue como um dos principais indicadores de custo no comércio internacional. Alterações tarifárias, conflitos geopolíticos e eventos climáticos continuam pressionando os preços.
Apesar do aumento nos custos logísticos, a demanda global permanece aquecida. A procura por contêineres subiu 7,8% em comparação com o primeiro semestre de 2024, segundo dados divulgados pelo Governo Brasileiro. O Índice de Gerentes de Compras (PMI) dos EUA aponta otimismo, sugerindo um mercado mais favorável para 2025. As importações cresceram na Oceania (+9%), América Latina (+8%) e Europa (+6%). No entanto, o congestionamento portuário também aumentou, com três meses consecutivos de filas e atrasos, resultado da alta demanda e escassez de contêineres.
Porto de Santos: crescimento, desafios e investimentos
O Porto de Santos segue como protagonista do comércio exterior brasileiro. Mesmo com congestionamentos e limitação de janelas de atracação, o terminal bateu recordes em 2025: foram 2,8 milhões de TEUs movimentados no semestre, crescimento de 7,8% em relação a 2024.
O porto alcançou 29,9% de participação na corrente comercial brasileira em junho, sendo o maior percentual em quatro anos. No total, foram movimentadas 88,3 milhões de toneladas, o segundo melhor resultado da história, próximo ao recorde de 89,1 milhões em 2022.
Para suportar o crescimento, está em andamento o leilão do Tecon Santos 10, com investimento previsto de US$ 988 milhões. O objetivo é transformar Santos em um hub logístico para a América Latina, com expansão de capacidade, dragagem, novos berços e conexão com o túnel Santos–Guarujá.
Perspectivas para o 2º semestre de 2025
Segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a expectativa para 2025 é de um superávit comercial de US$ 93 bilhões, com um aumento de 23,7% em relação a 2024. As exportações devem atingir US$ 358,8 bilhões (+5,7%) e as importações, US$ 265,7 bilhões (+28,3%). O câmbio voltou a ser um fator de peso nas operações internacionais, com o dólar sofrendo oscilações importantes ao longo do semestre.
O cenário para o segundo semestre é positivo, mas depende fortemente das estratégias diplomáticas e comerciais do Brasil, especialmente nas negociações com os Estados Unidos. O direcionamento adotado poderá influenciar tarifas, fluxos e oportunidades para o comércio exterior.
À medida que o setor se adapta a novas regulamentações, desafios logísticos e um mercado em constante mutação, os custos de frete seguem como ponto de atenção. Espera-se que alianças estratégicas e inovações no transporte continuem moldando os preços e a capacidade global nos próximos meses.