O Porto de Santos vive um momento decisivo: batendo recordes históricos de movimentação mas enfrenta atrasos e incertezas sobre a expansão de sua capacidade. Em julho de 2025, pela primeira vez, o complexo ultrapassou a marca de 17 milhões de toneladas em um único mês, segundo dados preliminares da Autoridade Portuária de Santos (APS). Também registrou recorde em contêineres, alcançando 534,7 mil TEUs, volume 8,5% superior ao mesmo mês de 2024.
Esse crescimento reforça a necessidade de ampliação. O principal projeto em andamento é o Tecon 10 (STS10), novo terminal que promete aumentar em cerca de 50% a capacidade do Porto de Santos, colocando-o entre os 20 maiores do mundo. O leilão prevê R$ 6,45 bilhões em investimentos, com contrato inicial de 25 anos e possibilidade de prorrogação por até 70 anos. O terminal deve contar com 600 mil m², quatro berços de atracação e capacidade para movimentar até 3,5 milhões de TEUs por ano, operando com um time de 5 dias e utilização de pátio em 90%, índices acima do padrão internacional.
No entanto, o Tecon 10 também gera preocupações, o risco de “verticalização”, que é quando companhias de navegação também administram os terminais, geram polêmicas no setor. O leilão foi questionado judicialmente sob alegação de falta de transparência, mas o pedido foi negado, já que o tema havia sido amplamente debatido em 2022 e 2025.
A nova construção impacta também diretamente a cidade de Santos. O prefeito Rogério Santos destacou que a prefeitura exigirá ações mitigatórias e compensatórias, como drenagem, melhorias de acesso e contrapartidas sociais, para equilibrar o crescimento econômico com a qualidade de vida da população.
Enquanto o debate pela construção do novo terminal segue em processo, atualmente o Porto de Santos opera com cerca de 90% de sua capacidade, com previsão de saturação total até 2028, segundo o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Eduardo Nery em declaração ao portal da CNN. Em agosto de 2024, chegou ao pico de 86% das embarcações atrasadas; em setembro, o índice caiu para 84%, mas com uma mediana de 12 dias de espera. Salvador (56%), Rio de Janeiro, Navegantes e Paranaguá (cerca de 50%) também registraram atrasos significativos no período.
As causas vão além das limitações locais. Em 2025, os principais fatores de pressão foram as tensões geopolíticas, como a guerra comercial entre EUA e China e os ataques no Mar Vermelho, que forçaram a adoção da rota alternativa pelo Cabo da Boa Esperança, aumentando em até 12 dias o tempo de viagem, e os eventos climáticos, como furacões no Caribe e a seca no Arco Norte do Brasil.
Segundo Lucas Moreno, CEO da startup Ellox Digital, em declaração para o portal Poder360, este é o “novo normal” da logística global. O problema, segundo ele, é que o Brasil não acompanhou as transformações: “As últimas entregas de obras foram em 2013. Depois disso, não houve aumento na capacidade de movimentação de contêineres”.
Ainda assim, há sinais positivos. Globalmente, a DP World movimentou 45,4 milhões de TEUs no primeiro semestre de 2025, crescimento de 6,7% em relação ao ano anterior. Em Santos, a empresa já iniciou a expansão de seu terminal, parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com previsão de alcançar 1,7 milhão de TEUs por ano até 2026.
Atualmente, portanto, o Porto de Santos se encontra em uma divisão: colhe os frutos do aumento das exportações e da posição estratégica no comércio internacional, mas precisa resolver gargalos estruturais e definir o futuro do Tecon 10. A entrada da francesa CMA CGM no controle da Santos Brasil ajudou a destravar a licitação do novo terminal, diminuindo pressões externas sobre a verticalização. Seguimos acompanhando como o maior porto da América Latina equilibrará expansão, competitividade global e sustentabilidade urbana nos próximos anos, além de manter os investimentos e níveis de cargas no local.