O comércio exterior é amplamente moldado pelas relações e conexões entre os países, sendo diretamente impactado por mudanças econômicas e políticas globais. Nesse cenário, grandes potências como China e Estados Unidos se destacam e influenciam boa parte das movimentações de cargas e das dinâmicas do mercado internacional.
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a China é hoje a segunda maior economia do mundo, posição conquistada após décadas de reformas e abertura gradual de seu regime econômico.
Até os anos 1970, o país vivia sob um modelo de planejamento centralizado, autossuficiente e isolado do comércio internacional. A virada veio com as reformas e abertura no sistema econômico, iniciadas em 1978, que transformaram o sistema e abriram caminho para a integração global. O foco estava em setores estratégicos: agricultura, indústria, ciência e tecnologia, e defesa. Um dos marcos desse processo foi a criação das Zonas Econômicas Especiais, voltadas para atrair investimentos externos e estimular a industrialização.
A atratividade do país cresceu rapidamente e, em 2001, a China aderiu à Organização Mundial do Comércio (OMC), consolidando-se como parte essencial das cadeias de valor globais. Nos anos 2000, com infraestrutura em expansão, mão de obra abundante e barata, e investimentos em tecnologia, a China ganhou o título de “fábrica do mundo”, tornando-se o maior exportador global.
Hoje, a China segue marcando presença nos maiores segmentos de exportação do mundo, com destaque para áreas como eletrônicos, automóveis, maquinários e produtos químicos, consolidando sua posição de liderança e inovação. O país continua a expandir sua presença no comércio internacional, adaptando-se constantemente às mudanças nas demandas globais.
Esse rápido crescimento, no entanto, veio acompanhado de desafios internos. O país enfrenta problemas como o envelhecimento populacional precoce, a desigualdade entre áreas urbanas e rurais, o alto endividamento de empresas estatais e a persistente bolha imobiliária, que ameaça a estabilidade econômica. O modelo chinês atual é considerado uma mistura de socialismo com práticas de livre mercado, uma combinação que ainda gera debates.
Enquanto os Estados Unidos mantêm uma economia fortemente orientada ao consumo interno, a China direciona seus esforços para investimentos e exportações, consolidando-se como peça-chave na engrenagem do comércio mundial.
Mesmo com essas fragilidades, o desempenho econômico continua em crescimento: entre 1978 e 2010, o PIB chinês cresceu, em média, 9% ao ano, colocando o país como a segunda maior economia do mundo. Hoje, a China representa cerca de 18,6% do PIB mundial e é a maior exportadora global de bens.
No cenário internacional, sua influência causa dependência no mundo, marcado pelo excesso de produção chinesa e o domínio em diversos segmentos da indústria. Além disso, com o alto nível de globalização no mundo, as economias estão cada vez mais interligadas, o que as torna suscetíveis a disputas e guerras comerciais intensas.
Esse cenário de interdependência global, por um lado, fortalece potências econômicas, gerando grande poder no comércio internacional, mas, por outro, expõe suas vulnerabilidades no contexto geopolítico. As tensões entre países como os Estados Unidos e a China, por exemplo, demonstram como o crescimento e o domínio de uma nação podem ser acompanhados de desafios, como a instabilidade das cadeias de suprimento e a volatilidade dos preços. Assim, apesar do poder econômico que essas potências detêm, suas fragilidades políticas e comerciais se tornam um fator de risco em um mundo cada vez mais competitivo e globalizado.
A Nova Rota da Seda: o caminho da influência
A história das rotas comerciais reforça esse protagonismo. A antiga Rota da Seda, criada no século II, ligava a China à Ásia Central, Oriente Médio, Norte da África e Europa, movimentando seda, especiarias, chás e pedras preciosas, além de difundir religiões, tecnologias como a pólvora e até doenças como a Peste Negra. Com as Grandes Navegações do século XV, sua importância diminuiu, mas a ideia renasceu em 2013, quando a China lançou a Nova Rota da Seda, ou Belt and Road Initiative (BRI). A rota busca conectar Ásia, Europa, África e América Latina por meio de rodovias, ferrovias, portos, usinas e cabos digitais.
Com mais de US$ 1 trilhão em investimentos e presença em mais de 150 países, que juntos representam 65% da população mundial e 40% do PIB global, a BRI é hoje um dos maiores movimentos de integração econômica da história. A estratégia amplia mercados, garante acesso a matérias-primas e reforça a influência política e econômica chinesa, ao mesmo tempo em que gera preocupações entre rivais como Estados Unidos, União Europeia e Índia.
Na América Latina, investimentos incluem o porto de Chancay, no Peru, melhorias no Porto de Paranaguá (Brasil) e financiamentos no setor de energia e petróleo. Apesar disso, o Brasil ainda não aderiu oficialmente à iniciativa, preferindo manter relações de cooperação sem assumir compromissos formais.