Empresas e profissionais do Comércio Exterior assistem, atualmente, ao aumento do frete marítimo e sua ocasional interferência na oferta de contêineres. Em matéria divulgada pela Bloomberg em junho, dados apontam uma escalada no custo médio do frete, em especial na região da Ásia e especificamente a China.
De acordo com a Bloomberg Línea, a taxa de frete marítimo na rota Ásia-Brasil passou da média de US$ 2.588 a US$ 2.966 para US$ 5.440 a US$ 6.773 no mês de abril/2024. Isso denota um cenário em que as companhias, para suprirem suas demandas diante da falta de contêineres e o aumento do frete, buscam por alternativas de transporte nas importações e exportações.
Por que o frete marítimo e os containers encareceram?
Alguns fatores influenciaram no encarecimento do frete marítimo e a queda na oferta de contêineres no mercado. Um deles foi o aumento do volume de carga da China enviado para o México. Ainda em matéria da Bloomberg Línea, menciona-se uma estratégia de nearshoring feita pelo país latino para os meses seguintes, ocasionando um privilégio dos armadores chineses para esta economia com produção local em ascendência este ano.
Além disso, os Estados Unidos entram no espectro de economias que está adquirindo mais contêineres. Conforme a economia norte-americana se mantém aquecida, a indústria local já se prepara para a temporada de compras do final do ano com a Black Friday e o Natal, estocando com antecedência suas cadeias de suprimentos. Este movimento impulsionará ainda mais o consumo e influenciará na oferta dos contêineres, e este favorecimento das rotas para as Américas do Norte e Central impactará as nações latinas.
A despeito do frete marítimo, os conflitos no Mar Vermelho ocasionados pela guerra entre Israel e o Hamas também são atribuídos. Neste contexto, cargueiros têm sido atacados pelos houthis — grupo militar e político do Oriente Médio — na rota marítima do Canal de Suez, que afetam o tráfego de mercadorias e demais cargas. Os houthis justificam seus ataques como uma investida contra Israel e o Ocidente no conflito da região da Palestina.
Leia também este assunto no nosso blog: DUIMP: O que você mais precisa saber sobre a declaração
Rotas alternativas são consideradas pelas companhias
A partir disso, as empresas têm optado por rotas alternativas para evitar o Canal de Suez, cuja região equivale a 12% do tráfego marítimo do mundo e 9% da carga brasileira de contêineres, segundo dados em matéria do portal InfoMoney. A mudança de rota ocasiona um maior tempo de viagem, e um consequente aumento do frete. Inclusive, uma das rotas escolhidas foi o Canal da Boa Esperança, no sul do continente africano, que estende a distância da Ásia com demais destinos portuários; o que atrasa a janela de atracações dos navios.
Ainda, as mudanças climáticas deixam suas marcas nesse cenário. O Canal do Panamá, por exemplo, teve seu fluxo afetado por um período de El Niño mais acentuado em 2024, e a região também faz interligação com alguns dos principais portos do mundo.
Os principais impactos previstos
Por ora, ainda é impreciso calcular os impactos mais expressivos da escala do frete marítimo. Entretanto, já é possível identificar potenciais cenários:
- Migração e crescimento do modal aéreo como uma alternativa de transporte, o que também escalona o frete por conta da demanda;
- O nearshoring no México e a estocagem de produtos na supply chain dos EUA impactará a oferta de contêineres para os países da LatAm;
- Aumento do período de trânsito na rota China-Brasil;
- O valor do frete seguirá inconstante até meados de agosto/2024;
- Projeção de aumento de 20% a 25% no custo do frete marítimo, principalmente em decorrência da escassez de contêineres.
Em matéria do Jornal do Comércio de junho deste ano, destaca-se o levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) de que o aumento do frete tornou-se o principal problema nos negócios de 90% das empresas de COMEX.
O frete marítimo na Ásia e no Oriente Médio em relação ao valor de carga
Em análise de dados fornecidos pela Comex Stat, o frete marítimo teve uma variação branda em relação ao valor de carga, especificamente. Entre 2023 e 2024 na Ásia, o frete iniciou com valores altos, com reflexos ainda da pandemia de Covid-19, até atingir uma estabilização. A partir deste ano, o frete marítimo, considerando o valor de carga, apresentou um sutil aumento.
Em relação ao Oriente Médio, o frete demonstrou comportamento mais instável em 2023 e uma subida brusca no valor no começo de 2024. Tais informações deverão ser acompanhadas para identificar variações futuras.
Como as empresas podem se prevenir diante deste cenário?
Em face de todo este cenário do frete marítimo em plena escalada de preços, fato que poderá resultar numa disputa por contêineres, possíveis perdas de bookings e redução de frequência de rotas — já que os armadores deverão direcionar seus equipamentos para rotas mais rentáveis, a exemplo das rotas Ásia-México e Ásia-EUA, — os importadores poderão, certamente, se resguardar e proteger o atendimento de suas demandas, seja de matérias-primas ou de produtos acabados, fazendo uso de algumas soluções:
1) Antecipação de pedidos de produtos importados, mesmo que não haja demanda para os mesmos neste momento;
2) Utilização de um Recinto Alfandegado de Zona Secundária, como a Libraport, para o armazenamento destas mercadorias, cujos embarques foram antecipados. Isso garantirá o atendimento das demandas locais do segundo semestre (Black Friday, Natal, etc.); e
3) Aplicação de regimes aduaneiros especiais que poderão ajudar o importador a não penalizar o seu fluxo de caixa, com especial atenção ao Regime Especial de Entreposto Aduaneiro. Este permite o armazenamento de mercadorias importadas (com ou sem cobertura cambial) por um período de 01 ano com suspensão dos tributos incidentes na importação.
Deste modo, a utilização dos serviços especializados de um Recinto Alfandegado de Zona Secundária, a exemplo da Libraport Campinas, onde as mercadorias serão armazenadas num ambiente com total segurança, com as mais recentes Boas Práticas de Armazenagem (BPA’S) e sob tarifas bastante atrativas e adequadas a cada operação, tudo isto associado à aplicação de Regimes Aduaneiros Especiais que protejam as operações do importador, poderão garantir um segundo semestre praticamente sem quaisquer contratempos, atrasos ou eventuais escassez de produtos, mesmo em face de um cenário caótico no que tange ao tráfego internacional de mercadoras.