Na última terça-feira (15), o governo federal se reuniu com representantes da indústria e do agronegócio para tratar dos efeitos da nova taxação de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros. O encontro teve como objetivo buscar alternativas de negociação que evitem o rompimento das relações comerciais com os EUA, sem comprometer a estabilidade institucional brasileira.
A justificativa apresentada por Trump para o aumento das tarifas é voltada ao incentivo à indústria norte-americana, priorizando o consumo de produtos feitos nos Estados Unidos. Além disso, fatores políticos também pesam o apoio de Trump em políticos brasileiros, opostos a atual presidência teria influenciado a decisão do republicano.
Mesmo com as tensões, o governo optou por não aplicar a Lei da Reciprocidade que permitiria a retaliação comercial, buscando preservar as relações de negociação e evitar consequências, como a suspensão de acordos comerciais ou o esfriamento das relações diplomáticas. Para o vice-presidente Geraldo Alckmin, as medidas adotadas pelos EUA foram desproporcionais, e o momento exige união e articulação por parte do empresariado nacional.
Consequências diretas no Estado de São Paulo
Os reflexos econômicos dessa tarifa já se fazem presente em diversas regiões do Brasil, com destaque para o Estado de São Paulo, que lidera as exportações brasileiras para os EUA. Enquanto o mercado norte-americano representa 11% do total das exportações do Brasil, em São Paulo essa fatia sobe para 19%. Ou seja, quase um quinto de tudo o que o estado exporta tem os Estados Unidos como destino.
A Região Metropolitana de Campinas (RMC), reconhecida como um dos maiores polos logísticos e industriais do país, também deve sofrer impactos significativos. Os EUA são o destino de cerca de 17% das exportações da RMC, atrás apenas da Argentina. Com a nova tarifa, empresas locais já projetam perdas e retração em contratos comerciais.
Santa Bárbara d’Oeste, por exemplo, é uma das cidades mais afetadas por estar inserida em um importante polo têxtil. De acordo com dados da Comex Stat, no primeiro semestre de 2025, a cidade exportou mais de US$ 50 milhões, sendo 56,4% desse valor destinado aos EUA. Com a taxação de 50%, parte dessas exportações pode deixar de ser competitiva no mercado americano.
Cidades como Hortolândia, Nova Odessa e Sumaré também devem sentir os efeitos. As três localidades representam cerca de 35,5% das exportações regionais para os EUA, especialmente em segmentos como tecnologia, autopeças e produtos químicos.
Dependência dos Estados Unidos
Desde 2009, o Brasil ocupa posição de destaque como fornecedor de diversos produtos para o mercado norte-americano. Essa relação de interdependência, especialmente em regiões industrializadas como Campinas, intensifica os efeitos da tarifa, gerando preocupações quanto ao futuro de empregos, investimentos e estabilidade de contratos comerciais.
Empresas da região, em conjunto com empresários e o governo, buscam formas de reduzir os impactos, seja por meio de acordos bilaterais, isenções específicas ou redirecionamento das exportações para outros mercados.
Com as incertezas e a dependência do mercado norte-americano, os exportadores brasileiros buscam olhar para novos mercados de forma estratégica. A diversificação dos destinos de exportação reduz riscos e aumenta a resiliência do setor diante de situações como o tarifaço imposto pelos EUA. Apostar em parcerias com países da América Latina, África, Oriente Médio e Sudeste Asiático pode ser um caminho viável para descentralizar as vendas e ampliar as oportunidades comerciais, fortalecendo a presença internacional das empresas brasileiras com mais segurança e estabilidade.